Um dia cheio de gás!

Ontem eu fui ao centro da cidade comprar livros. Eu tou meio desatualizado do mundo. Meu tio-avô faleceu há dois dias, depois de alguns meses hospitalizado, e eu passei esses dias em uma espécie de retiro familiar.
Portanto, eu não sabia dos protestos de ontem, que eu até queria me juntar (mas, onde eu não queria cair de para-quedas, que foi o que aconteceu).

Comecei a procurar livrarias, mas andei muito o centro da cidade até achar uma aberta, que foi a Livraria da Travessa da Rio Branco, perto da Praça Mauá, porque todas as outras estavam fechadas. Mas ela não tinha os livros que eu queria. Então, eu lembrei da Livraria Cultura, na Senador Dantas, que por inocência eu imaginei que pudesse estar aberta.

Assim que eu cheguei no Largo da Carioca, por volta de 19h, tinham uns manifestantes mascarados tirando fotos duma cápsula de gás com a validade vencida.
Em seguida, um carro da PM subiu a calçada da Almirante Barroso, e foi desacelerando ao lado de um mascarado que tava parado sem fazer nada (em cima da calçada). Eu tava um pouco mais distante, mas fiquei olhando pra ver se ia rolar uma prisão ilegal, caso no qual eu poderia servir de testemunha de defesa. Como o cara só ficou parado encarando-os, estes foram embora.

Os tiras foram embora. De carro. Em cima da calçada.
Foram de carro em cima da calçada, pro meio do Largo da Carioca, onde estavam os manifestantes, que tiraram a foto do gás vencido. Estes se dispersaram indo na direção do Theatro Municipal, onde uma mini-tropa de choque, com escudos e cassetetes, estava os esperando, na frente do prédio que desabou (o que me pareceu uma estratégia militar de encurralamento).
Do nada, um destes policiais, do mini-choque, começou a reclamar que já tava de saco cheio dos manifestantes e que se ‘pegasse um’ ia “arriar” – disse isso brandindo o cassetete na mão, correndo atrás dos manifestantes mascarados que estavam atrás de mim (i.e. fiquei no meio do fogo cruzado). Me escorei numa banca de jornal ali em frente, porque eu percebi que não daria pra dialogar com o cara, mas fiquei tranqüilo, porque os manifestantes conseguiram correr mais do que ele.

Então, uma bomba de gás explodiu na Cinelândia e a fumaça chegou onde eu tava (na frente do prédio que caiu) meus olhos, nariz, boca e pele do rosto arderam pra caceta, e eu tive que aprender, auto-didaticamente, a usar vinagre (que uma moça da lanchonete que tem ali em frente, me deu) pra cortar os efeitos do gás.

Quando cheguei na rua Senador Dantas, onde fica a Livraria Cultura, vi que ela estava fechada pela (mega)tropa de choque da PM. Então dei meia-volta pra ir embora, porque eu não quis ir até a Lapa pegar ônibus, pra não ter que passar na frente do Quartel General da Polícia Militar, que por ‘um feliz acaso do destino’ fica em frente à sede do SEPE RJ- Sindicato Estadual dos Profissionais em Educação do RJ (onde eu já tive o prazer de estagiar e fazer muitos amigos).

Só depois de algumas horas andando o Centro, eu resolvi voltar à Livraria Arlequim, no Paço Imperial, onde eu já tinha passado, mas que só tinha achado um dos livros que eu estava procurando, e desisti de comprar todos na mesma livraria e saí com um garantido.

No final das contas, fui embora de ônibus, que peguei no Mergulhão, embaixo da Praça XV, depois do palácio Tiradentes (onde estão acampados os professores). E lá ainda dava pra sentir a fumaça tóxica vinda da Cinelândia, que eu já tinha sentido antes quando passei por lá nais cedo, por volta de 18h, mas que naquela hora, por volta de 20h, eu soube pelas pessoas que reclamavam de uma leve ardência nos olhos, porque eu já não conseguia mais sentir o gás, depois da dose caprichada que eu levei.